03 janeiro 2023

Engasgo

Todo mundo se sente um lixo e derrotado em algum momento. 

Todo mundo, em alguma hora, tem dificuldades de não generalizar e não considerar que uma questão específica reflita toda a sua vida: uma coisa que vai mal, logo todo o resto vai mal também. 

Todo mundo se sente assim em algum momento. 

E a última coisa que acho que alguém deveria ouvir nessas horas é como você deve ou não se portar diante das situações. 

A maior parte do tempo a gente só está buscando acolhida. Alguém que diga que vai ficar tudo bem, não importa o que seja. 

Crítica a gente mesmo se encarrega. 



29 julho 2022

Autossabotagem ninja

 Hoje teve terapia. 

E houve um negócio interessante, que valeu vir transcrever a nota antes que ela se perca nos milhares de devaneios que vem e vão por essa cabeça desajustada…

Em certa altura da conversa comentei que estava “enferma”. Não foi esse o termo, no entanto não me lembro agora o que foi usado, mas foi nesse sentido. O ponto em questão era dizer que me sinto quebrada, desmantelada. Estou sensível, sinto de forma constante não possuir mais qualquer controle sobre minhas emoções, qualquer coisa é motivo para eu me debulhar em lágrimas e é desesperador não conseguir controlar isso. É estranho olhar pra trás e ver que há algum tempo eu conseguia administrar isso de tal forma que era possível pegar as merdas que aconteciam e só jogá-las para debaixo do tapete - e “vida que segue”. Esse sempre foi meu modus operandi… E agora não. 🫣

Psicanálise é um negócio interessante porque quando você diz as coisas em voz alta, parece que ela toma novos significados. 

E justo quando eu disse isso, sobre não conseguir mais jogar as coisas para debaixo do tapete (!!!), ela lindamente alertou que lá há quase dois anos atrás, quando começamos a trabalhar juntas, minha queixa era justamente estar cansada de ter sempre que jogar tudo para debaixo do tapete. 



E então ela me disse que que bom que eu não consigo mais levar as coisas para debaixo do tapete! 

Pode não parecer grande coisa. Mas isso me fez pensar sobre como (e quão frequentemente) nosso (in)consciente fica querendo nos levar de volta a lugares que nos são confortáveis e assim retroalimentar ciclos que muitas vezes não são nada saudáveis. Nem sei se é válido chamar esses lugares de zona de conforto porque confortáveis, efetivamente não são. Mas enxergar esses padrões, que de tão sutis a maior parte do tempo acreditamos fazerem parte da nossa natureza e essência, e transformá-los ou abandoná-los, é quase como pedir ao fumante para abandonar o cigarro ou ao alcoólatra a bebida. '-' 

É processo. Leva tempo. Tem autossabotagem... muita. Mas eu não imaginava que seria tão ninja assim.


24 julho 2022

Comunicação não violenta ficou onde ?

 "Como falar o que está no meu coração e ser compassivo com o outro ao mesmo tempo?" (frase do @institutocnvbrasil)

Eu vi essa postagem uns dias atrás e desde então essa frase começou a ecoar sem parar na minha cabeça. Porque de forma recorrente me vejo em/ou criando conflitos exatamente por não ter domínio dessa habilidade de fala.

Isso me levou a outro pensamento também. Que é: justamente quando mais preciso de acolhimento que me torno menos acolhedora. É como se a necessidade de cuidados naquele momento rompesse os limites dos bons cuidados com as outras pessoas e fazendo as vezes até que surja o desejo de machucar outrem. Como que uma compensação insana de não conseguir acolhida. Faz sentido?

A ideia desse texto já esteve repleta de muito desejo de machucar. Exatamente na contramão da frase que o inicia. Mas muito se perdeu, muito está adormecido… (inclusive, hoje enquanto chorava no banho pensava nessa habilidade (?) que tenho em esquecer temporariamente dos meus conflitos e ficar revezando entre eles. Dessa maneira, um ciclo se mantém retroalimentado, onde as aflições ficam em revezamento. Cada qual com sua vez, até que eu esqueça de uma temporariamente e dê lugar a outra. E assim vamos … 

Minha terapeuta diz que cada vez que retorno a esses lugares, retorno de uma forma diferente. Mas não sei se outras pessoas percebem dessa forma. Sei que para alguns deve ser algo do gênero: “isso de novo?”. 

Mas para além da máxima que venho repetindo bastante (“não consigo calar a minha boca”), é difícil para mim ter que ouvir passivamente algumas coisas. 

Eu tenho tido muitos gatilhos, tenho estado sob muito estresse e por diversas vezes tenho sentido que extrapolei repetidas vezes todos os meus limites e eu só não consigo mais. E mesmo não conseguindo, eu sigo tentando, porque eu não sei bem em que momento isso ficou gravado em meu cérebro, mas, parece que desistir não é uma possibilidade. Então mesmo quebrada eu tenho que continuar. 

E estando nesse estado, ouvir essas máximas “você tem que se controlar”, “você tem que ter paciência”, “você não pode ser assim”, “você tem que fazer um esforço”, “você não pode levar as coisas dessa maneira”… 

É o mesmo que levar um tapa na cara! 

Tentar me controlar, fazer esforços, ter paciência, tentar me encaixar, tentar fazer caber, tentar deixar o mais confortável possível para todo mundo, mesmo que isso me deixasse em situações desconfortáveis, foi só o que fiz a minha vida inteira. E sigo fazendo… de forma capenga, mas sigo. Então eu realmente não sei o que esperam de mim. 

Não sei o que esperar de mim. 

Quando ouço alguém, tento ter o cuidado de não repreender o ponto de vista do outro pq eu não sei o quanto lhe custa ouvir aquilo. Ex.: alguém tá na merda e vc chega e diz: “não fica assim”. Pra mim isso é meio que negar ao outro o “direito” de sentir-se chateado. E são processos que precisamos passar as vezes… “Você precisa ter paciência…” Poxa, você acha que eu não sei disso?  Entende? 

As vezes não precisamos que nos lembrem do óbvio. Nem sei pq estou escrevendo isso. Nem era o objetivo inicial do texto. 

Mas talvez, 

Talvez seja melhor eu tentar ficar calada.

Só isso mesmo. 



29 abril 2022

A bolha

 O incômodo se encontra na sensação constante de desconfiança, de meias verdades. Eu sei que não tenho me mostrado a pessoa mais constante para se conversar civilizadamente, mas a mudança não foi sem razão. Será que ficou claro pra vc que naquele episódio lá atrás um elo de confiança se rompeu? Por mais que eu ame, por mais que eu perdoe, esquecer é algo diferente. Não é fingir que não aconteceu. E com isso vem sempre o assombro não apenas do “será que pode acontecer de novo” - apesar desse primeiro pensamento não poder me pertencer porque na prática você não me deve nenhuma satisfação, mas também o “o que mais é ocultado com princípios não tão distintos” - o que mais é ocultado justamente porque sabe que pode magoar. 


Porque por mais que doa, eu sempre preferi a verdade. Muitas foram as vezes que perguntei. E muitas também foram as vezes que não perguntei para não ser invasiva. Mas a intenção era demonstrar que eu estava disponível para ouvir e aceitar o que viesse, desde que fosse honesto. Mas como comecei. As meias verdades. Isso põe tudo abaixo. E me trazem a sensação de objetificação. A sensação de desvalorização. De escanteio. De um significado muito menor na sua vida. O que é uma droga porque eu escolhi te por em evidência em minha vida, te tornar especial. Tudo bem, sei que vc não pediu isso em hora alguma, isso também é da minha responsabilidade, mas pensa aí como é decepcionante você considerar alguém super especial e ver que em contrapartida você é só mais um na vida dele. Não é cobrança. É um relato honesto da sensação ruim. 


Tenho pedido de forma recorrente perdão a Deus por não ser um ser elevado ao ponto de dizer, do fundo do coração: “tudo bem. Eu amo e doo. E não careço de retorno porque o amor e a doação que tenho por ti me bastam.” Eu estaria mentindo se dissesse que é verdade. Em fato, as vezes eu até consigo “sustentar este papel” da autossuficiência. Mas quando me sinto frágil, quando me sinto só, quando sinto que preciso de abrigo, é pesado ter que curar-se das chagas de forma solitária. 

 

Continuando o raciocínio anterior: da decepção de ver que em contrapartida você é só mais um na vida dele… Percebo que é da minha responsabilidade a posição em que o coloquei em minha vida, e que da mesma forma, as outras pessoas são livres para me colocarem no lugar que acharem por bem em suas próprias estantes. Eu vejo isso. Compreendo. 

 

O fato é que ver e compreender não anulam o sentimento de dor por não ocupar outros lugares nessa prateleira. E isso se manifesta de formas explosivas.

 

É uma educação. Cada dia tento me ensinar, me fazer entender que eu nunca fiz parte nem nunca farei parte da sua vida. Que por mais que eu tenha desejado viver mil cenários diferentes com você, nesse mundo que é seu, foi algo que só foi desejado no meu coração e nos meus pensamentos. Pra você eu sempre serei “a bolha”. O que você pinta como uma lembrança doce, diante dos meus sonhos, ainda é um lembrete meio que cruel. 

 

Minhas emoções, na hora de se expressarem, tem sempre se misturado. Porque meus pensamentos tem pairado muito sobre em como as coisas são, como eu gostaria que fosse e ainda sobre coisas que eu fico debatendo comigo mesma se eu mereço ou não. 

 

É muito difícil para mim ainda fazer afirmações de merecimento. Porque parece que merecimento tá atrelado com desejo. E todos meus desejos tem um limite, que é a vontade dos outros. Então eu posso desejar algo? Como que eu faço isso sem ferir/interferir no livre arbítrio alheio? 

 

Aí eu lembro da bolha. Será que eu não mereço uma vida além bolha? Será que eu sou essa pessoa tão ruim assim, tão asquerosa e de difícil trato assim que nunca vivi nem viverei uma vida sem ser nas bolhas dos outros? 

 

Acho que é por essa sensação de ser sufocada (não propositalmente ou diretamente) por tudo/todos a meu redor, que acabo reagindo repetidamente como faço. 

 

Esse relato tem tom de justificativa. Mas mais que isso, sou eu traçando um trajeto de comportamento, que a maior parte do tempo passa desapercebido até mesmo por mim. Foram dias e dias refletindo e avaliando sobre os porquês por trás de cada reações. 

 

Não sei se isso é tudo. Mas é o que enxergo para o momento. Uma explicação para mim mesma. Porque quem eu gostaria que entendesse isso, nunca vai entender. 


23 abril 2022

Mais que 280 caracteres

Se hoje eu fosse escrever uma carta para Deus como eu costumava fazer antigamente no blog privado que criei só para isso, eu diria que estou cansada. Que estou cansada e que não sei mais o que fazer, o que sentir, o que dizer. Acho que só queria abrigo mesmo. Mas não sei que conforto é esse que busco que não encontro em lugar nenhum. 
 
Estou cansada de tentar ser forte, de ter que dar conta de tudo, de ter que seguir em frente. Eu tô cansada de palavras. Eu ouço vários "conte comigo" mas na prática nossas lutas são só nossas. Não tem ninguém que possa nos substituir nesse papel. Ninguém vem aqui trocar de lugar conosco... só um pouquinho para que possamos dar uma respirada. Por mais que eu diga que não vou pedir ajuda (e sempre peça no final), sempre são para coisas subjacentes. Porque para aquelas que eu gostaria dividir o fardo, sei que sou só eu e Deus. Mas até nisso me sinto inapta a pedir/receber socorro. 
 
Tem também esse lodo de amargura que foi se criando e parece uma calda no fogo, que só vai engrossando com o passar do tempo. Não me faz nada bem, só me puxa para baixo e deixa turva a minha visão das coisas - será??? Mas tem horas que ela vem com tudo, queimando, agindo naqueles pontinhos que mais doem, justo nas feridas abertas que insistem em não cicatrizar. E eu só não tenho mais a mesma resistência de antes para fingir que não tem nada acontecendo, que não tem nada incomodando. 
 
Uma questão importante e que tenho tentado absorver das sessões de terapia: não negar as evoluções. Eu tenho essa mania de retornar às questões como se avanços não tivessem sido feitos, negando tudo o que já consegui melhorar, só pelo fato de reincidir em "velhas questões". Ok, Carol, vou tentar melhorar essa frase - ou linha de pensamento. As ondas de amargura vem com tudo, queimando, agindo nos pontos que mais me doem. Mas se doem é porque ainda são questões não totalmente tratadas. 
 
Eu sei que não posso cobrar de ninguém que compreenda isso (minhas recorrências nessas questões), mas a ação de não fazê-lo "apenas" porque incomoda o outro já não está me bastando mais (se me incomoda demais). Por que eu tenho que engolir e digerir tudo? - Isso me lembra da fala de Nildo sobre a conversa com seu próprio terapeuta sobre a tendência que temos em trazer para o corpo os sentimentos: o engolir e digerir metafóricos são transmutados no corpo físico. (Minhas escápulas que o digam, constantemente tensas, dando choque, formigando... a insônia nos dias mais pesados...). 
 
Esses dias fui pesquisar o valor de um curso de comunicação não violenta. Infelizmente está super fora do meu orçamento e realidade. Está mais caro do que a especialização que venho namorando há alguns anos. O que é uma pena. Porque eu gostaria de verdade de ter aprendido um jeito melhor de expressar minhas dores sem com isso machucar. Mas devido a compras compulsivas do passado e vários "nãos" não ditos, minhas finanças dos próximos anos não permitirão esse mimo. Então eu seguirei cansada, tensa e pagando uma sessão de massagem aqui ou acolá. Porque falar sobre isso não é uma opção. Incomoda. 
 
"Algumas vezes parece que você não acha que tem potencial para ferir, magoar, machucar os outros. Parece que só as outras pessoas fazem isso com você. Não ignore sua capacidade de machucar. Porque você faz." 
 
 
Eu sei disso. E como sei. E hoje esse é um dos meus grandes desafios internos. Porque eu sei do potencial que tenho para ferir e magoar e machucar. Sei também que faço isso - geralmente sem a intenção. Mas como eu comecei esse texto: estou cansada. Como continuei esse texto:  Por que eu tenho que engolir e digerir tudo?. E na parte anterior à citação: "Incomoda". Nisso, eu fico muitas vezes na corda bamba da maldade - de por quê eu sigo retroalimentando esse ciclo de engolir dores e incômodos porque isso incomoda os outros em demasia se ao menor sinal de fraqueza meu (quando eu não consigo segurar as pontas sozinha), minha comunicação violenta-grosseira vai lá e incomoda do mesmo jeito?. De qualquer forma que eu tente me equilibrar nessa corda, se suprimo o que sinto e expludo, machuco. Se eu desse voz a um lado realmente vil e de querer de fato machucar (porque eu sei como fazê-lo), o resultado é o mesmo. Então qual é o ponto? Entende?

Mas em nenhum desses cenários eu encontro as respostas que busco. Por quê?

O título da postagem anterior, que era para um post futuro que nunca aconteceu, deveria tratar dessa sensação de insuficiência. Dessa sensação de "o que é que falta em mim?", "o que eu preciso fazer para merecer?", "o que eu preciso fazer para ter em retribuição?". É quase um grito silencioso dizendo: "me diz o que eu preciso fazer, porque eu queria tanto ter isso em troca."...

Eu sei Deus, que é da tua palavra essa coisa de que qualquer coisa que a gente faz, entrega, dá e etc., para ser genuíno, deve ser feito sem esperar nada em troca. Que só assim tem valor. 
Sinto muito Deus por estar te decepcionando desse tanto. Eu tentei bastante e não consigo mais mentir (para mim mesma) dizendo que eu consigo fazer isso de forma genuína sem esperar nadinha em troca. 

Tenho essa amiga-luz que uma vez me disse que a Vida é feita de trocas. Que o equilíbrio se mantém através de trocas. E que se um lado doa mais que outro, em algum momento isso ficará evidente na balança e ninguém consegue sustentar isso para sempre.  Eu achei que fez muito sentido. Ainda acho que faz. Mas eu queria muito ser capaz de somente doar. Mas como disse no parágrafo anterior: eu não consigo mais mentir sobre isso. Mentir que não me importo. 

Já tem alguns anos que eu tirei das redes sociais a data do meu aniversário. Até como um filtro para que as respostas que eu tivesse fossem honestas, de pessoas para quem eu significasse algo. Eu sei que a vida é uma loucura, uma correria. E que muitas vezes a gente lembra dias antes ou dias depois, mas doeu muito que meu "melhor amigo" não tenha se lembrado até hoje que meu aniversário já passou. Ou minha "melhor amiga", ou minha madrinha, ou mais um monte de gente que é especial pra mim e que me conhece há décadas. Eu queria dizer de verdade que isso não me magoou. Mas não é isso que eu sinto. E como venho repetindo como um CD ralado desde o começo desse texto: eu não consigo mais ignorar essas questões. São pequenos detalhes que parecem que foram se tornando gigantes ao longo dos anos/vida. 

Na véspera do meu aniversário minha irmã me levou para escolher meu presente. Ela sabia como eu queria um terço, porque o que eu tinha, eu coloquei junto com minha mãe. Está com ela lá no cemitério. Ela me levou para escolher, peguei de extra um "minutos de sabedoria" (que ela adorou a proposta, inclusive), no fim do dia me deu um petit-gâteau-só-para-mim! Tem ideia disso? Geralmente sou eu quem ocupo o lugar de presentear, de mimar. E nesse dia ela fez isso. Sem aviso. E é uma das memórias recentes mais lindas que tenho comigo. A troca é tão ruim assim, Deus? Porque eu me senti tão bem. Eu me senti importante. Amada em algum nível, sabe? Igual como na relação de cuidado, carinho e amor que existe com meu pai, minha tia, o Pitoco... São relações que descortinam além de palavras: elas acontecem principalmente através de gestos. 

Como falei no começo: eu ouço vários "conte comigo" ou "você é importante para mim", "você tem o seu lugar no meu coração".  Palavras. Verbos. Embora de acordo com a gramática elas possam expressar ação, a maior parte do tempo são só palavras. Não sei se o pior disso é a auto recriminação por pensar "Será que estou querendo/pedindo demais?" ou "Será que isso são coisas que deveriam ser pedidas? O princípio não é a espontaneidade?". Sempre fui a favor da espontaneidade, até acho que o que desejo não são coisas que servem para ser pedidas a alguém. Mas o ponto talvez nem seja pedir e sim somente expressar, confessar, admitir que eu desejo, que eu me importo e que essas ausências me magoam, me machucam e por conseguinte, me fazem magoar e machucar. 

A terapia tem sido esse grande exercício de sinceridade. 
Maldade? Egoísmo? Intransigência? Provavelmente. 
Mas dor de ausências, de autossuficiências e falsa fortaleza, também tem de sobra. 

Eu instalei esse aplicativo no celular. Para colocar coisas pelas quais sou grata. 
No dia do meu aniversário (não sei se estou batendo em demasia nessa tecla por ser o primeiro ano da minha vida sem minha mãe viva)..., mas nesse dia, olhando aqui, meu agradecimento foi por não ter tido vento nem revoada de folhas (e a calçada ter permanecido limpa).

É só por esse tipo de coisa e pelo amor que sinto quando vejo meu afilhado, que acho que não desisti completamente de mim ainda.






22 setembro 2021

Sobre a não suficiência.

Em breve por aqui. Hoje não porque esta senhora não é mais uma jovemzinha de vinte e poucos anos. Foi-se os tempos de virar as noites escrevendo e divagando. As lágrimas e lamentos já estão reservados para a terapia amanhã pela manhã!
Pitoco já veio aqui dizer que é hora de dormir <3

23 julho 2020

¯\_(ツ)_/¯

E no fim das contas, cada um tem sua própria jornada do herói.

Olhe para trás. Veja o que te trouxe até aqui. Todos os percalços, todas as dores e amores. Toda lágrima. Toda pedra no caminho. Todo obstáculo transposto. 

Tenho repetido igual cd ralado. Cada história é única. A cruz que carrego não é mais leve ou mais pesada que a sua.

Evite comparações. Qualquer comparação que fazes entre ti e outrem, sempre será injusta. Tua história é única. Teu caminho, ímpar. Assim também é de qualquer pessoa próxima ou não a ti. 

Não te oprimas pensando estar “atrás” daqueles a teu redor. Cada um está exatamente onde deveria estar. 

Tampouco te diminua pensando no que poderia ter sido caso a decisão tomada tivesse sido diferente. Certo ou errado, sempre buscamos pelo melhor. Toda ação advinda de uma reação, muito provavelmente foi tomada na certeza da melhor das opções disponíveis para o momento. 

Cada erro e cada acerto moldaram quem tu és hoje. Trabalhe apenas para que a cada novo dia, uma versão melhor de si mesmo seja apresentada ao mundo. 

“No fim das contas, cada um tem sua própria jornada do herói”. Todos incríveis. Cada qual com seus dons e peculiaridades. Cada qual especial. À sua maneira. 

Que tentemos lembrar sempre de sermos gentis. Com quem está a nossa volta. E principalmente e especialmente, conosco. 

Já foi gentil consigo hoje? 



06 outubro 2016

Feijões, Baratas, Voar ou Criar Raízes

Semana passada participei de um encontro sobre Inovação na Academia. Um dos palestrantes, nos momentos finais de sua apresentação, compartilhou conosco um pouco de sua trajetória pessoal. Contou-nos que na época que estudava os tempos eram de vacas magras e que certa feita, havia em casa para comer, apenas uma panelada de feijão. Ao levar uma colherada à boca, percebeu algo diferente. Ao cuspir fora a refeição percebeu que uma barata havia sido cozida junto a sua refeição. Disse que naquele momento (desagradável) concluiu que haviam duas opções: 1ª - ficar com nojo, fazer vômito, colocar pra fora e interromper a refeição; 2ª - continuar a comer como se nada houvesse acontecido porque aquele feijão era a única coisa disponível para o dia e se não fosse assim, teria que suportar as dores da fome em um dia que estava longe de terminar.

Lógico que este relato me fez pensar. Fez todos os presentes naquela sala pensar. Há uma dualidade em tudo o que fazemos. Todas as situações que nos acontecem, sempre apresentará ao menos dois lados da situação, óticas diferentes. Já diz o ditado, "aos limões, limonadas", porém é tão difícil ser objetivo assim, né não? Claro que tudo depende do valor que cada um dá às coisas. Pra esse moço era mais importante não ficar com fome. Para outra pessoa talvez fosse mais interessante a não ingestão de baratas durante a refeição. 

Prioridades.

Mas tudo bem. Todos temos prioridades. Elas nascem das nossas vivências, experiências, contextos sociais, culturais. Contudo, minha grande insegurança hoje é quanto a como filtrar essas tais prioridades.

Atualmente eu me vejo diante de uma feijoada, porém, por mais bem preparada que ela esteja, é como se eu encontrasse baratas o tempo todo. Eu sei que estou comendo feijoada e não baratas. Eu sei que se eu estivesse de fato comendo baratas, no dia em que eu tivesse a oportunidade de experimentar essa tal feijoada, eu a apreciaria como poucos. Ela teria um sabor "mais especial". Justamente por conta da velha dieta regrada baratas à qual eu estava anteriormente submetida. 

Então, voltando às prioridades, no momento me sinto sugada por uma correnteza, incapaz de definir uma estratégia para sair dessa situação. Devo eu assumir que de fato hoje me servem feijões? Partindo desse princípio devo ser grata, louvar o fato dessa refeição. Devo olhar com orgulho aquilo que conquistei. Meus feijões são desejos de outros. Não que a ideia seja despertar inveja ou coisa assim, mas deve significar que estou fazendo a coisa certa, não?

Se por outro lado, eu assumir que hoje minha dieta é regada a baratas, instaura-se aí uma sensação de insatisfação. Um desejo de mudança; afinal ninguém quer passar a vida comendo baratas. Nesse contexto busca-se mais, engolimos seco na firme esperança de que isso é para um bem maior: feijões.

As vezes os feijões me remetem a criar raízes. Será que é hora de aquietar-me? Olhar em volta e contemplar o que foi feito até aqui? Digo isso não necessariamente num contexto conformismo do tipo "é isso aqui e pronto". É mais sobre uma perspectiva de desacelerar. De me desprender de tudo aquilo que outrem esperam que sejamos, obtenhamos. Porque vamos combinar, somos muito mais do que isso. Somos muito mais do que o salário que cai em nossa conta a cada mês, ou dos bens que vamos acumulando ao longo da vida. Uma vez, viajando a trabalho, encostada na janela do carro olhando a paisagem externa movimentar-se por horas a fio, vi uma pessoa sentada sobre uma pedra, à beira da estrada brincando com um punhado de capim na mão. Eu a invejei tanto por isso!

Não me recordo da última vez que eu me sentei em qualquer lugar (seja pedra, chão, areia ou coisa do tipo) para pura e simplesmente não fazer nada (a não ser talvez, brincar com um pedaço de capim). Entende? As vezes sinto que só preciso de um tempo assim, de contemplação. E talvez não haja carreira bem sucedida que traga esse tipo de paz de espírito. Por isso retomo a pergunta: como sabemos que é hora de hastear bandeira branca, criar raízes e curtir os feijões conquistados?

Porque vez ou outra somos assolados por esse desejo de ter e ser mais. Voar. Sair da zona de conforto, ver o que mais podemos experimentar por aí. Talvez na perspectiva de descobrir que a Vida vai além de feijões e baratas....

O que a gente faz com esses sentimentos contraditórios? 

Sou assolada constantemente por essa coisa de "me cansei de depositar todas minhas expectativas naquilo que ainda vai acontecer. 'um dia terei minha casa', 'um dia vou decorar a sala do jeito que sempre sonhei', 'um dia vou fazer aquela viagem', 'um dia...'". Por outro lado, vez ou outra também chega de mansinho a outra voz. E ela diz coisas como 'você não precisa ter essa tal casa; olha que legal isso que você construiu. você não consegue ser feliz assim?', 'quem disse que você precisa se encaixar nesse modelinho que os outros dizem que é bom para você? quer sentar numa pedra e ficar brincando com um galho seco? sente numa pedra e brinque com esse galho seco!', 'viva', 'não se preocupe tanto'.

E fico pairando nesse meio termo. Ouvindo que preciso voar, preciso criar raízes, que tenho que almejar feijões pois alimento-me de baratas ou tenho que agradecer meus feijões pois poderiam ser baratas.

É sério. Eu queria tanto ser uma pessoa prática e objetiva nessa vida. 

Um amigo me falou: "você sabe o que tem que fazer. mas ainda assim não faz"

Outro amigo me falou: "nós vamos chegar lá, é preciso paciência, faz parte do processo. estamos no caminho certo"

Os dois estão certos respeitado suas respectivas óticas. 

Mas e eu? Onde eu fico no meio disso tudo?

Passamos a vida inteira buscando independência. Clamando pelo direito de tomar nossas próprias decisões... E aí um belo dia você chega nesse "patamar" e tudo o que deseja é alguém pudesse tomar essas decisões por você.

Depois de tanto devaneio, a única coisa que concluo é: devo fazer a tarefa de casa que a psicóloga me passou: preencher o formulário que ela me enviou com o Ciclo da Preocupação e ver se isso me leva ao menos a lidar melhor com essas inquietações.


06/10/2016